Tag: Jogos sobre saúde mental

  • Análise de As Long As You’re Here: Profundo e Sensível

    Análise de As Long As You’re Here: Profundo e Sensível

    Há jogos que entretêm, jogos que desafiam e jogos que simplesmente nos transformam. As Long As You’re Here, que acaba de chegar ao PC via Steam, pertence decididamente à última categoria. A nossa análise de As Long As You’re Here foi feita na plataforma da Valve, e é uma daquelas experiências que ecoa na mente e no coração muito depois que os créditos finais sobem. Terminei minha sessão com o game com lágrimas nos olhos, numa mistura de sensações que englobava tristeza pelo desenrolar da narrativa e uma felicidade por ter encontrado uma obra deste calibre.

    Este game é uma prova viva de que os jogos não são “apenas games“. Eles podem fazer mais, abordar tópicos complexos e relevantes com uma singularidade que só a interatividade proporciona. E é sobre isso que trata a nossa análise de As Long As You’re Here.

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    aviso em As Long As You are Here

    Para sentir o tom único e a atmosfera emocional que citamos nesta análise de As Long As You’re Here, assista ao trailer oficial abaixo. Ele captura perfeitamente a essência da jornada de Annie.

    Trailer oficial de As Long As You’re Here. O vídeo, embora em inglês, mostra a potência visual e narrativa do jogo, que conta com legendas em português na versão completa da Steam.

    Vivendo os Dias de Annie: Uma Perspectiva Única

    Em As Long As You’re Here, nós assumimos o papel de Annie, uma mulher que começa a lidar com os sintomas de Alzheimer. Já na cena inicial, o jogo nos oferece um vislumbre poderoso e perturbador do que é conviver com essa doença, tanto para a pessoa diagnosticada quanto para sua família. Esta análise de As Long As You’re Here não poderia deixar de destacar a sutileza e a humanidade ímpar com que os desenvolvedores abordam a questão.

    Saber que o projeto nasceu de um lugar profundamente pessoal – após a criadora, Marlène Delrive, perder sua avó para a mesma doença – adiciona uma camada de autenticidade e respeito que é palpável em cada momento. Isso transforma a experiência de simplesmente “jogar” em algo muito mais próximo de “testemunhar” e “sentir”.

    Gameplay que Serve à Narrativa

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    As Long As You are Here gameplay PC Steam

    Do ponto de vista de jogabilidade, As Long As You’re Here é intencionalmente simples. As interações com objetos são diretas e não há quebra-cabeças complexos para resolver. E isso faz todo o sentido. A simplicidade mecânica nos dá o espaço mental e emocional necessário para absorver plenamente a narrativa e vivenciar a confusão e os pequenos esquecimentos de Annie – aqueles momentos de “espera, eu não tinha deixado a caneca de café em cima da mesa?” que são tão comuns nos relatos que ouvimos sobre quem tem a doença.

    Com cerca de 80 minutos de duração, o jogo é um pouco mais curto que um filme comum, mas a sua mensagem alça voos maiores. Porque aqui, nós estamos ativamente “vivendo” os dias daquela personagem, e não apenas observando passivamente uma tela.

    O Impacto Visual, Sonoro e a Acessibilidade

    Visualmente agradável e com uma trilha sonora que complementa perfeitamente o tom melancólico e reflexivo, o jogo cria uma atmosfera imersiva da qual é difícil se desvencilhar. E, para minha feliz surpresa, o jogo tem legendas em português do Brasil. O que democratiza o acesso a esta narrativa linda e tocante, garantindo que ninguém fique de fora.

    As-Long-As-You-are-Here-gameplay Análise de As Long As You're Here: Profundo e Sensível
    As Long As You are Here gameplay Steam / PC

    Uma Obra Necessária e Inesquecível

    As Long As You’re Here é uma daquelas obras que a gente não sabia que era necessária, mas agradece profundamente por ela existir. Recomendadíssimo para quem busca games fora da caixa, aqueles que nos fazem refletir sobre a condição humana, a memória e a finitude.

    O jogo está disponível na Steam por apenas R$ 32,99 – valor oficialmente mais barato que uma entrada de cinema em São Paulo. E eu aposto que ele vai ecoar na sua mente e coração, por mais tempo que a maioria dos filmes que você viu este ano. Esta análise de As Long As You’re Here é um convite para você viver essa experiência única. Não deixe passar.

    Esta análise foi realizada com uma cópia de avaliação para PC via Steam, gentilmente cedida pelo estúdio. Agradecemos a confiança depositada em nosso trabalho.

  • Vampire Therapist: Quando os Games Ensinam Sobre Saúde Mental (e a Complexidade da Escuta)

    Vampire Therapist: Quando os Games Ensinam Sobre Saúde Mental (e a Complexidade da Escuta)

    Entre Vampiros e Lições Sobre a Mente Humana

    Como psicanalista, aprendi que cada paciente traz uma história única — e Vampire Therapist (Crowley Studio) me surpreendeu ao traduzir essa premissa para os games. O jogo não é um manual de terapia, mas uma ferramenta que educa através da empatia, mostrando como a escuta atenta e a observação das entrelinhas podem revelar conflitos profundos. Não se trata de reproduzir técnicas clínicas, e sim de estimular reflexões sobre saúde mental de forma criativa.

    1. A Individualidade dos Pacientes (Até os Imortais)

    Assim como na clínica, o jogo apresenta personagens com histórias complexas e motivações únicas. Cada vampiro desafia o jogador a:

    • Observar padrões sutis: Uma fala repetitiva sobre “solidão eterna” pode esconder medo de conexões reais.
    • Respeitar ritmos diferentes: Nenhum paciente-vampiro responde a fórmulas prontas — é preciso adaptar a abordagem, algo que todo terapeuta reconhece.
    • Questionar estereótipos: O “monstro” muitas vezes é um reflexo de traumas não resolvidos, não uma essência imutável.

    O jogo não substitui a terapia, mas funciona como um discurso indireto sobre a importância de enxergar além das aparências — habilidade crucial tanto para psicanalistas quanto para jogadores.

    2. O Jogo Como Ferramenta Educacional (e Seus Limites)

    Vampire Therapist tem um claro propósito: popularizar conceitos de saúde mental sem simplificá-los. Alguns acertos:

    • Metáforas Acessíveis:
      A “maldição vampírica” pode ser lida como vícios, compulsões ou isolamento social — temas que dialogam com o público leigo.
    • Quebrando Estigmas:
      Ao mostrar vampiros em terapia, o jogo normaliza a busca por ajuda, mesmo para quem se sente “monstruoso” ou irreparável.
    • Educação Emocional:
      Escolhas de diálogo exigem interpretação contextual, ensinando jogadores a pensar além do óbvio (“Por que esse vampiro evita falar do passado?”).

    Porém, é importante ressaltar: a experiência do jogo é lúdica, não clínica. Ele não ensina psicanálise, mas convida à curiosidade sobre processos terapêuticos.

    3. O que Um Psicanalista Enxerga nas Entrelinhas?

    Mesmo sem reproduzir métodos específicos, o jogo me fez refletir sobre desafios universais da prática clínica:

    • A Arte da Pergunta Certa:
      Em uma cena, questionar um vampiro sobre seu “primeiro amor” desencadeia uma crise de identidade. Na vida real, perguntas aparentemente simples podem abrir portas para memórias reprimidas.
    • Silêncios que Falam:
      O jogo valoriza pausas e hesitações — detalhes que, no consultório, muitas vezes revelam mais que discursos elaborados.
    • A Ética do Cuidado:
      Decidir entre “confrontar” ou “acolher” um personagem lembra dilemas reais: qual a melhor forma de fazer o manejo de cada caso?

    Games Que Ampliam o Diálogo Sobre Saúde Mental

    Vampire Therapist não é sobre vampiros: é sobre humanidade. Como psicanalista, vejo no jogo um esforço digno de nota: usar o entretenimento para falar de temas como culpa, resiliência e autoperdão. Seu maior mérito? Mostrar que a escuta — seja de um terapeuta, um jogador ou um vampiro — começa com a disposição de aceitar que cada história tem camadas.

    “Você acredita que games podem ser ferramentas de educação em saúde mental? Deixe nos comentários sua opinião ou compartilhe este post para ampliarmos o debate!”