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  • Copycat é sobre vida, gato, abandono e erros

    Copycat é sobre vida, gato, abandono e erros

    Quantas vezes você se perguntou o que se passa na cabeça do seu gato? Eu tenho uma enorme curiosidade de saber o que acontece na cabeça das minhas gatas e como elas veem o mundo. Copycat vai te emocionar com sua narrativa que explora o ponto de vista do gato e sua relação com questões como abandono, vida, pertencimento e lar. E isso talvez ajude a imaginar o que acontece dentro da cabeça de seu pet.

    Em Copycat seguimos a aventura de Dawn, uma gata de abrigo, que é adotada por Olive. Uma senhora com a saúde debilitada, que vive sozinha e está elaborando o luto da perda de seu pet anterior. Uma dos pontos que me chamou atenção no jogo é que a nova “humana” de Dawn é retratada como uma pessoa comum. Nem heroína, nem vilã, uma pessoa com as suas limitações e que erra, mesmo querendo acertar. E é explorando a relação entre gato e um humano (real), na perspectiva do animal, que Copycat vai te emocionar.

    Em breve nos consoles

    O estúdio australiano Spoonfull of Wonder acaba de lançar o game na Steam e promete em breve, também lançar Copycat para Playstation 4/5, Xbox X/S e Nintendo Switch.

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    Copycat é um indie com foco em narrativa, por isso é bom dosar as expectativas em relação a jogabilidade. Você não vai encontrar mundo aberto, árvore de habilidades ou um sistema de combate profundo. Por outro lado, a narrativa tem potencial de te afetar, te fazer sentir e deixar questões em sua mente por algum tempo.

    Vida de gata

    Ao explorar o mundo na pele de um gato você poderá roubar comida de sua tutora, derrubar vasos e muitas outras coisas no chão, miar, subir em árvores, explorar a vizinhança, andar por cercas e telhados, aterrorizar pássaros e enfrentar a gangue de gatos de rua.

    Apesar de podermos controlar Dawn livremente em alguns momentos a maior parte das interações ao longo do game é feita com eventos rápidos ou via mini games.

    Parte técnica

    Copycat não foca em realismo gráfico, a jornada é toda estilizada e me agradou. Especialmente algumas áreas externas que com boa iluminação produzem recortes bonitos daquele mundo. Antes de começar a jogar, selecionei a opção gráfica mais alta e não tive um único problema de desempenho durante a campanha. Tudo funciona como deveria nesta área.

    O áudio funciona bem, a trilha sonora é agradável e condizente com a proposta. Os efeitos são bons, e neste sentido os animais foram bem representados. Gostei da dublagem dos humanos (apenas em Inglês), especialmente da voz dentro da cabeça da Dawn, com seu estilo “narrador de documentário da natureza”. Apesar do áudio estar apenas em inglês, Copycat felizmente possui legendas e menus em português do Brasil.

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    Alerta de spoilers

    O ponto alto do game é sua narrativa e tudo o que ela pode desencadear em nós enquanto jogamos. Copycat vai te emocionar e por isso, se você é sensível a spoilers, recomendo que interrompa a leitura aqui e volte depois de jogar. Apesar de eu evitar grandes spoilers nessa análise do game, é difícil falar da narrativa sem mencionar trechos dela.

    O game começa com a visita de Olive ao abrigo para adoção de um gato (ou seria a adoção da humana por um gato?). Temos aqui seis opções de gatos para escolher, eu acabei ficando com a frajola porque me lembra muito uma das minhas gatas. E pelo que vi é mais uma escolha estética que não tem grandes impactos no decorrer da campanha.

    Ainda no abrigo o game aponta para pontos importantes que ganharão relevância ao avançarmos na campanha. O profissional no abrigo reconhece a senhora como alguém que estava procurando um gato desaparecido semanas atrás. Olive passa mal e precisa de algum tempo para se recuperar. Ela lê e assina o termo de adoção que inclui de forma absolutamente clara as responsabilidades dela como nova tutora daquele animal de estimação.

    No caminho de volta pra casa, enquanto Olive se apresenta para a nova gata ela diz acreditar que só é possível julgar alguém depois de o conhecer. Acredito que Olive diz isso também para o jogador, porque ao longo da campanha fica clara a complexidade das coisas no game.

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    Nem tudo é o que parece ser

    Olive não é o que parece a primeira vista. Por falar nisto, meu sentimento em relação a ela e suas atitudes ao longo do game oscilou um bocado. O comportamento de Dawn nem sempre é por conta do “jeito” dela. Tem ainda a filha adulta de Olive, que não vive com ela, e toma atitudes no mínimo “questionáveis”.

    Ao avançarmos na narrativa, eventualmente descobrimos nuances que explicam algumas coisas. E isso faz com que sejamos obrigados a nos deslocar da posição que havíamos assumido antes, ao julgar o erro de alguém por exemplo.

    Por conta disso, uma boa parte da minha experiência com Copycat foi me perguntar se eu teria feito diferente na posição de alguém que cometeu um erro. E talvez este seja um dos responsáveis para que eu me identificasse cada vez mais com as personagens, porque quem nunca errou?

    Na mente felina

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    Outra parte importante do game é a forma como os desenvolvedores decidem mostrar o ponto de vista da gata. Nosso poder de escolha sobre a personalidade de Dawn é pequeno. Ele se dá nas escolhas dicotômicas, e aparentemente pouco relevantes, quando o jogo nos coloca em alguma situação. No entanto, boa parte da construção dela acontece quando seus pensamentos saltam na tela, pelos seus sonhos e pelo biólogo narrador.

    Imagine a clássica narração de um documentário sobre a natureza. Então, a voz e a forma do narrador se expressar é exatamente esta. Acredito que a utilização do biólogo foi uma excelente escolha porque ao mesmo tempo em que ela nos cabe no contexto de observação animal. Ela também me lembra daqueles momentos em que falamos com nós mesmos dentro da nossa cabeça para nos incentivar. Um exemplo disto seria: “ok derso, faltam só mais três aparelhos para terminar o treino, bora!”.

    Vale a pena?

    Durante as três horas da campanha algumas coisas vão sendo redefinidas, abandono e a ideia de lar são dois exemplos. A forma como as personagens respondem as situações e os erros das outras, é, as vezes, errando também. Isso abre espaço para nos identificar com o que está acontecendo na tela, espaço para sermos humanos. E é utilizando bem este espaço que Copycat vai te emocionar.

    Copycat acabou, e aí? Eu adorei este game! Acredito que ele faz bem o que se propõe a fazer e além disso, aborda a importante questão social de abandono e mal trato animal, tão contemporânea em nosso Brasil.

    Copycat review

    Nossa análise foi realizada no PC com uma cópia de avaliação do game gentilmente cedida pela Spoonfull of Wonder. Agradecemos ao estúdio pelo apoio ao nosso trabalho.